Identificação de segmento corporal – relato de caso e discussão dos aspectos médico-legais


Resumo

A perícia médico legal em um segmento corporal (SC) apresenta várias limitações técnicas e envolve equipe multidisciplinar. Neste trabalho é apresentado um relato de caso envolvendo os principais aspectos técnicos da análise antropológica forense de um SC, com ênfase na integração entre os conhecimentos médico legais e datiloscópicos que permitiram sua identificação. Tratava-se de uma mão e de um antebraço encontrados boiando em um rio de área rural. A análise antropológica conseguiu estimar que o SC pertencia a indivíduo do sexo masculino com idade superior a 40 anos e estatura média de 168 centímetros. O tempo de decomposição dos tecidos moles foi estimado como superior a 24 horas. Também foram evidenciadas lesões ósseas produzidas por ação cortante, causadas por objeto laminado à semelhança de uma faca, bem como uma área de pseudoartrose em fratura antiga do osso escafoide (um sinal particular do periciado). As técnicas utilizadas no preparo da luva epidérmica permitiram a obtenção de uma adequada impressão digital revelada que, ao ser comparada com impressão padrão, identificou a quem pertencia o SC.


Palavras-chave

Antropologia forense
Identificação
Impressões digitais
Medicina legal
Autopsia

Referências

  1. S. Blau; D.H. Ubelaker. Forensic Anthropology and Archaelogy: Indroduction to a Broader View. In: Handbook of Forensic Anthropology and Archeology. Left Coat Press: Walnut Creek, United States of America 2009, 21-25, 2009.
  2. D.A. Komar; J.E. Buikstra. Indroduction. In: Forensic Anthropology - Contemporary Theory and Practice. Oxford University Press: Oxford, Reino Unido 1-22, 2008.
  3. W.M. Bass. Chapter 5 - Forensic Anthropology. In: W.U. Spitz (Ed.). Spitz and Fisher’s Medicolegal Investigation of Death – Guidelines for the Application of Pathology to Crime Investigation. 4ªed. Springfield: Charles C. Thomas, United States of America 240-254, 2006.
  4. H.C. Hercules. Capítulo 7 - Causa Jurídica da Morte. In: H.C. Hercules. Medicina Legal – Texto e Atlas. 2ªed. Editora Atheneu: São Paulo, Brasil 123-43, 2014.
  5. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil - Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto-lei 3.689, de 03 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal. Publicada no Diário Oficial da União (DOU) de 13 de outubro de 1941 (retificado em 24 de outubro de 1941).
  6. L.D. Conceição; N.R. Prietto; R.H.A. Silva; R.G. Lund. Forensic Dentistry in a Southern Brazilian City. Rev. Bras. Crimin. 4(1), 33-40, 2015.
  7. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei 12.030, de 17 de Setembro de 2009. Dispõe sobre as perícias oficiais e dá outras providências. Publicada no Diário Oficial da União (DOU) de 18 de setembro de 2009.
  8. Instituto Médico Legal de Belo Horizonte. Superintendência de Polícia Técnico-Científica. Polícia Civil do Estado de Minas Gerais. Retirado em 29/01/2018, de https://www.policiacivil.mg.gov.br/pagina/setores.
  9. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estimativas da população residente nos estados brasileiros. Retirado em 29/01/2018, de http://www.ibge.gov.br.
  10. Federal Bureau of Investigation (FBI). Chapter X – Problems and Practices in Fingerprinting the Dead. In: The Science of Fingerprints – Classifications and Uses. Middletown, United States of America 199-236, 2017.
  11. R. DeSilva; A. Flavel; D. Franklin. Estimation of sex from the metric assessment of digital hand radiographs in a Western Australian population. Forensic Sci. Int. 244, 314.e1-314.e7, 2014.
  12. T.D. White, M.T. Black, P.A. Folkens. Assessment of Age, Sex, Stature, Ancestry, and Identity of the Individual. In: Human Osteology. 3ªed. Academic Press, Burlington, United States of America, 379-427, 2012.
  13. J.A. Perper. Chapter 3 – Time of death and changes after death. In: W.U. Spitz (Ed.). Spitz and Fisher’s Medicolegal Investigation of Death – Guidelines for the Application of Pathology to Crime Investigation. 4ªed. Springfield: Charles C. Thomas, United States of America 87-127, 2006.
  14. E. Cunha; E. Baccino; L. Martrille; F. Ramsthaler; J. Prieto; Y. Schuliar; N. Lynnerup; C. Cattaneo.The problem of aging human remains and living individuals: A review. Forensic Science International 193, 1-13, 2009.
  15. D.W. Frayer; M.H. Wolpoff. Sexual dimorphism. Annu. Rev. Anthropol. 14, 429-473, 1985.
  16. M.Y. Iscan; M. Steyn. Chapter 4 – Sex. In: The Human Skeleton in Forensic Medicine. 3ªed. Charles C. Thomas: Springfield, United States of America 143-193, 2013.
  17. P.A. Barrio; J.T. Gonzalo; J.A. Sánchez. Metacarpal Sexual Determination in a Spanish Population. J Forensic Sci 51(5), 990-995, 2006.
  18. C.M. Stojanowski. Sexing Potential of Fragmentary and Pathological Metacarpals. Am. J. Phy. Anthropol. 109, 245-252, 1999.
  19. D. Nathena et al. Sexual dimorphism of the metacarpals in contemporary Cretans: Are there differences with mainland Greeks? Forensic Sci. Int. 257, 515.e1–515.e8, 2017.
  20. M.Y. Iscan; M. Steyn. Chapter 3 – Skeletal age. In: The Human Skeleton in Forensic Medicine. 3ªed. Charles C. Thomas: Springfield, United States of America 59-141, 2013.
  21. M.Y. Iscan; M. Steyn. Chapter 6 – Stature. In: The Human Skeleton in Forensic Medicine. 3ªed. Charles C. Thomas: Springfield, United States of America 227-258, 2013.
  22. C.W. Dupertuis; J.A. Hadden Jr. On the reconstruction of stature from long bones. Am. J. Phy. Anthropol. 9, 39-48, 1951.
  23. K. Pearson. Mathematical contributions to the theory of evolution. V. On the reconstruction of the stature of prehistoric races. Philosophical Transactions of the Royal Society London 192, 169-244, 1899.
  24. M.Y. Iscan; M. Steyn. Chapter 5 – Ancestry. In: The Human Skeleton in Forensic Medicine. 3ªed. Charles C. Thomas: Springfield, United States of America, 195-226, 2013.
  25. D.Q. Burd; P.L. Kirk. Tool marks—factors involved in their comparison and use as evidence. Journal of Criminal Law and Criminology 32, 679-686, 1942.
  26. K.J. Reichs. Postmortem dismemberment: recovery, analysis and interpretation. In: K.J. Reichs, editor. Forensic osteology: advances in the identification of human remains, 2nd edition. Illinois: Charles C Thomas Press, United States of America 353-388, 1998.
  27. S.A. Symes; E.N. Chapman; C.W. Rainwater; L.L. Cabo; S.M.T. Myster. Knife and Saw Toolmark Analysis in Bone: A Manual Designed for the Examination of Criminal Mutilation and Dismemberment. Document nº232864. U.S. Department of Justice - National Forensic Academy / Forensic Science Foundation 1-47, 2010.
  28. E.J. Bartelink; J.M. Wiersema; R.S. Demaree. Quantitative Analysis of Sharp-Force Trauma: An Application of Scanning Electron Microscopy in Forensic Anthropology. J. Forensic Sci. 46, 1288-1293, 2001.
  29. K. Kawamura; K.C. Chung. Treatment of Scaphoid Fractures and Nonunions. J Hand Surg Am. 33(6), 988-997, 2008.
  30. A.M. Christensen, B.E. Anderson. Chapter 16 - Methods of Personal Identification. In: N.R. Langley, M.T.A. Tersigni-Tarrant (Eds.). Forensic Anthropology – A Comprehensive Introduction. 2ªed. CRC Press: Boca Raton, United States of America 313-333, 2017.
  31. A. Holobinko. Forensic human identification in the United States and Canada: A review of the law, admissible techniques, and the legal implications of their application in forensic cases. Forensic Sci. Int. 222, 394.e1-394.e13, 2012.
  32. S.T.G. Ferreira et al. Floods and mudslides in the State of Rio de Janeiro and a plane crash in the Brazilian Amazon rainforest: A study of two different experiences in disaster victim identification (DVI). Forensic Sci. Int. Genetics Supplement Series 3, e516–e517, 2011.
  33. A.R. Pettorutti; D.R. Muñoz; M.J. Tsuchiya. Identificação médico-legal de casos com suspeita: levantamento de perícias do Instituto Médico Legal de São Paulo, na década de 90. Saúde, Ética & Justiça 8(1/2), 18-23, 2003.

Creative Commons License

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Copyright (c) 2018 Revista Brasileira de Criminalística

Compartilhe

Download

Autor(es)

  • Leonardo Santos Bordoni,
  • Aldeir José da Silva,
  • Fernando Carvalho dos Santos,
  • Polyanna Helena Coelho Bordoni,
  • Leonardo Santos Bordoni

    Polícia Civil do Estado de Minas Gerais Universidade Federal de Ouro Preto

    Graduado em Medicina, possui mestrado em Biologia Celular. Médico Legista do IML de Belo Horizonte. Professor de Anatomia, Neuroanatomia e Medicina Legal. Realiza pesquisas nas áreas de Medicina Legal e Anatomia Clínica.

     

    Aldeir José da Silva

    Universidade Federal de Minas Gerais

    Possui graduação em Gestão Hospitalar pela Universidade Estácio de Sá (2014). Especialista em Gestão de Saúde Pública e Meios Ambiente (2015),Medicina Legal e Ciências Forenses (2016), Anatomia e Patologia Associada (2016). Atualmente é técnico em Anatomia Humana e Necropsia da Universidade Federal de Minas Gerais, cedido ao Instituto Médico Legal de Belo Horizonte, onde auxilia na coleta, processamento e redação de relatórios necropapiloscópicos. Tem experiência na área de Morfologia, com ênfase em Anatomia Humana e Necropsia.

    Fernando Carvalho dos Santos

    Papiloscopista do Grupo de Identificação da Delegacia Regional Executiva / Superintendência Regional em Minas Gerais da Polícia Federal.

    Polyanna Helena Coelho Bordoni

    Polícia Civil do Estado de Minas Gerais

    Médica formada pela UFMG (2010) e especialista em Medicina do Trabalho pelo Hospital das Clínicas da UFMG (2013). Médica Legista da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais (2014) e Médica Perita / Médica do trabalho da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais (2013).

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)

1 2 > >>