Identificação papiloscópica em vítima de acidente aéreo – relato de caso e discussão da técnica utilizada


Resumo

Vítimas de acidentes aéreos constituem um grande desafio pericial para sua identificação, uma vez que os corpos podem apresentar extensa fragmentação e carbonização. Os principais métodos de identificação nesta situação são o datiloscópico, o odonto-legal, o antropológico e o genético. Mesmo em segmentos corporais carbonizados a identificação papiloscópica deve ser a primeira opção, caso viável. Entretanto, os diversos mecanismos de trauma envolvidos e a intensa perda de água pelos tecidos avulsionam, endurecem e enrugam a pele, dificultando a comparação datiloscópica. Vários são os métodos necropapiloscópicos disponíveis nesta situação, mas como há particularidades, quanto maior o arsenal técnico disponível, maiores as chances de obtenção de um registo adequado. No caso deste relato, apesar da extensa fragmentação do corpo, havia preservação de parte da mão direita, o que permitiu a investigação papiloscópica. A maioria das técnicas necropapiloscópicas em situações especiais visa as impressões epidérmicas. Mas no caso em tela a epiderme não pôde ser utilizada e a obtenção do registro datiloscópico foi feita na derme. A técnica exposta é simples, rápida e de baixo custo, o que permite sua aplicação mesmo em locais com pouca estrutura. Também pode ser realizada em quaisquer casos nos quais a epiderme esteja inviável para a coleta. Espera-se que este relato contribua para a utilização da necropapiloscopia dentro da prática forense, estimulando seus estudos e aprimoramentos.


Palavras-chave

Identificação
Impressões digitais
Técnica
Medicina legal
Autopsia.

Referências

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Autor(es)

  • Aldeir José da Silva,
  • Fernando Carvalho dos Santos,
  • Marcelo de Souza Almeida,
  • Alexander Santos Dionísio,
  • Polyanna Helena Coelho,
  • Leonardo Santos Bordoni,
  • Aldeir José da Silva

    Colégio Santa Maria, Pontifícia Universidade Católica, Belo Horizonte (MG)

    Fernando Carvalho dos Santos

    Grupo de Identificação, Delegacia Regional Executiva, Polícia Federal, Belo Horizonte (MG), Brasil.

    Marcelo de Souza Almeida

    Instituto Médico Legal André Roquette (IMLAR), Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte (MG), Brasil.

    Alexander Santos Dionísio

    Instituto Médico Legal André Roquette (IMLAR), Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte (MG), Brasil

    Polyanna Helena Coelho

    Polícia Civil do Estado de Minas Gerais

    Médica formada pela UFMG (2010) e especialista em Medicina do Trabalho pelo Hospital das Clínicas da UFMG (2013). Médica Legista da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais (2014).

    Leonardo Santos Bordoni

    Instituto Médico Legal André Roquette (IMLAR), Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte (MG), Brasil. Faculdade de Medicina,, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte (MG), Brasil. Grupo de Identificação, Delegacia Regional Executiva, Polícia Federal, Belo Horizonte (MG), Brasil. Faculdade de Medicina de Barbacena, Fundação José Bonifácio Lafayette de Andrada, Barbacena (MG), Brasil. Escola de Medicina, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto (MG), Brasil . Faculdade da Saúde e Ecologia Humana, Vespasiano (MG), Brasil.

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