Resumo
Óbitos e lesões relacionados à energia elétrica (EE) são um importante problema de saúde pública no Brasil. A investigação médico legal das mortes envolvendo EE é dificultada pela ausência de lesões específicas em grande parte das vítimas. Tendo em vista a importância para as ciências forenses, este trabalho objetivou investigar laudos de necropsias com histórico de contato prévio dos periciados com EE. Foram resgatados 224 casos dos quais em 73,2% a causa da morte foi atribuída exclusivamente ao contato com EE, em 8,5% foi decorrente de trauma contuso após contato com EE e em 18,3% permaneceu indeterminada mesmo após a realização da necropsia. A maioria dos óbitos ocorreu em contexto acidental, predominaram os casos relacionados a EE artificial (90,6%), a maior parte das autopsias foram realizadas na primavera e no verão. Houve predominância de periciados do sexo masculino, de cor parda, solteiros, que apresentava média etária de 32 anos, que não receberam atendimento médico previamente ao óbito. Queimaduras foram as lesões externas mais observadas; os sinais de Jellinek e de Lichtenberg foram descritos em 64 e em 10 laudos, respectivamente. Petéquias subpleurais e subepicárdicas foram os achados internos mais frequentes. Houve positividade em 22,2% dos exames de alcoolemia realizados e em 13,2% dos de toxicologia. O estudo aponta para a previsibilidade epidemiológica das fatalidades envolvendo EE, para as dificuldades médico legais no estabelecimento da causa médica da morte, o que destaca a importância da integração entre a perícia de local com os achados necroscópicos na investigação destes casos.