Análise médico-legal de mortes violentas em unidades prisionais do Espírito Santo


Resumo

As unidades prisionais existentes no Brasil exibem uma situação caótica, com sistemas de segurança precários, condições de desestruturação e superlotação e extrema insegurança, que favorece a ocorrência de altos índices de mortes no interior das unidades prisionais. O objetivo do presente trabalho foi analisar as mortes violentas ocorridas no interior de presídios e discriminar as causas médicas de morte mais frequentes, verificar características das mortes e identificar o perfil demográfico das vítimas quanto a sexo e idade, além de discutir aspectos médicos legais inerentes ao tema. O estudo retrospectivo foi realizado nos arquivos do Instituto Médico Legal de Vitória, cidade do sudeste do Brasil, por meio de um levantamento nos laudos referentes a necropsias realizadas em cadáveres procedentes de estabelecimentos penais do estado, examinados num período de cinco anos consecutivos, sem distinção de sexo. A análise dos dados permitiu identificar algumas características particulares, tais como maior número de mortes entre presos do sexo masculino, de idade jovem. As mortes por traumatismo crânio-encefálico e asfixia corresponderam à maioria dos casos e observou-se um alto percentual de mortes associadas a meios insidiosos ou cruéis. Uma diligente perícia forense e a consequente produção de laudos periciais consistentes e esmerados são essenciais para se produzir uma investigação criminal imparcial e eficaz, alcançando com isso a elucidação dos fatos e a justiça devida em casos como esses.

Palavras-chave

Medicina Legal
Prisões
Violência
Morte
Causas de Morte.

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Copyright (c) 2021 Revista Brasileira de Criminalística

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Autor(es)

  • Talita Lima Castro-Espicalsky,
  • Romildo Rabbi,
  • Kátia Souza Carvalho,
  • Robson Dettmann Jarske,
  • Luiz Francesquini Júnior,
  • Eduardo Daruge Júnior,
  • Ana Claudia Rossi,
  • Talita Lima Castro-Espicalsky

    Instituto Médico Legal de Porto Velho, Rondônia, Brasil.

    Perita Odonto Legista do Instituto Médico Legal de Porto Velho, Rondônia, Brasil. 

    Departamento de Odontologia Social, Área de Odontologia Legal, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, UNICAMP, Piracicaba (SP), Brasil

     

    Romildo Rabbi

    Instituto Médico Legal, Polícia Civil do Espírito Santo, Vitória (ES), Brasil

    Kátia Souza Carvalho

    Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória (ES), Brasil

    Departamento de Medicina Social, Área de Medicina Legal, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória (ES), Brasil

    Robson Dettmann Jarske

    Instituto Médico Legal, Polícia Civil do Espírito Santo, Vitória (ES), Brasil

    Perito Médico Legista, Instituto Médico Legal, Polícia Civil do Espírito Santo, Vitória (ES), Brasil

    Luiz Francesquini Júnior

    Faculdade de Odontologia de Piracicaba, UNICAMP, Piracicaba (SP), Brasil

    Departamento de Odontologia Social, Área de Odontologia Legal, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, UNICAMP, Piracicaba (SP), Brasil

    Eduardo Daruge Júnior

    Faculdade de Odontologia de Piracicaba, UNICAMP, Piracicaba (SP), Brasil

    Departamento de Odontologia Social, Área de Odontologia Legal, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, UNICAMP, Piracicaba (SP), Brasil

    Ana Claudia Rossi

    Faculdade de Odontologia de Piracicaba, UNICAMP, Piracicaba (SP), Brasil

    Departamento de Biociências, Área de Anatomia, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, UNICAMP, Piracicaba (SP), Brasil