Análise das lesões promovidas por armas de ar comprimido em aves silvestres no nordeste do Brasil


Resumo

Objetivou-se avaliar os traumas ocasionados por armas de ar comprimido em aves silvestres procedentes do Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS-Tangará) localizado em Recife, Pernambuco, Brasil. Foram analisadas 25 aves silvestres com lesões sugestivas de projétil balístico. As lesões foram fotodocumentadas, caracterizadas externamente de forma comparada à traumatologia humana, quanto ao seu aspecto macroscópico, qualificadas quanto à natureza em leve, grave ou lesão corporal seguida de morte. Das espécies analisadas destacou-se a Rupornis magnirostris, correspondendo a 60% (15/25) das aves. Na caracterização macroscópica das lesões 96% (24/25) das aves apresentavam lesões perfurocontusas compatíveis com projétil balístico, associada a essas foi evidenciada a presença de lesões contusas: hematomas e fraturas em 50% (12/24) das aves analisadas, unicamente hematomas em 29,17% (7/24) e fraturas em 20,83% (5/24). Quanto à natureza das lesões, 48% (12/25) das aves apresentaram lesões classificadas em graves, 44% (11/25) leves e 8% (2/25) em lesão corporal seguida de morte. Em uma avaliação posterior foi constatado o óbito em 56% (14/25) das aves durante ou pós-tratamento e 44% (11/25) receberam alta clínica, porém deste efetivo 36,36% (4/11) apresentaram comprometimento de funções e apenas 28% (7/11) estavam aptas a retornarem a natureza. Projéteis procedentes de armas de ar comprimido promovem em aves, de forma geral, lesões graves que determinam na maioria das vezes o óbito ou mutilação dos animais. O uso dessas armas gera preocupação no que concerne à conservação de espécies silvestres, promovendo perda de biodiversidade, maus tratos e apresentando potencial ofensivo para outros animais, inclusive humanos.


Palavras-chave

caça esportiva
chumbo
medicina veterinária legal
maus tratos.

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