Proposta de utilização da microestrutura de pelos-guarda para fins de estudos forenses e no controle de qualidade de alimentos


Resumo

A identificação de mamíferos através das características microscópicas de seus pelos é possível com a utilização de várias técnicas tais como a análise dos padrões microestruturais encontrados nas escamas cuticulares e células medulares dos pelos-guarda. Tais técnicas utilizadas comumente no reconhecimento espécie específica podem também ser ferramenta em estudos forenses e de controle de qualidade de alimentos. Neste sentido, este estudo tem como objetivo a identificação microscópica de pelos-guarda de espécies domiciliares e peridomiciliares que possam ter ocorrência em locais de crime ou como contaminantes de alimentos. Assim, foram utilizados pelos-guardas coletados de coleções zoológicas e de espécimes vivos de gambás-de-orelha-preta e gambá-de-orelha-branca, camundongo, ratazana-de-casa, ratazana-de-esgoto, algumas espécies de morcegos, gato-doméstico, cão-doméstico e a espécie humana. Por meio do método utilizado, foram encontrados quatro padrões de cutícula: conoidal, ondeada, folidácea e losângica, sendo que a ondeada apresentou as variações lisa e ornamentada nas bordas das escamas. Para a medula foram encontrados seis padrões: ausente, presente unisseriada e presente multisseriada crivada, trabecular, matricial e alveolar. Com os resultados obtidos foi possível diferenciar todas as espécies abordadas através da análise dos padrões microestruturais de seus pelos-guarda, sendo os resultados apresentados em uma chave dicotômica ilustrada por fotomicrografias dos padrões.


Palavras-chave


Referências

  1. J. K. Ling. Pelage and molting in wild mammals with special reference to aquatic forms. Quarterly Review of Biology 45(1):16-54 (1970). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1086/406361
  2. P. Myers; R. Espinosa; C. S. Parr; T. Jones; G. S. Hammond; T. A. Dewey. Hair a uniquely mammalian characteristic. The Animal Diversity Web (1997). Retirado em 31/01/2011 de http://animaldiversity.unmz.umich.edu/anat/hair.html.
  3. C. P. Hickman Junior; L. S. Roberts; A. Larson. Integrated Principles of Zoology. 11ª Edição. McGraw-Hill Companies, United States of America (2001) 983p.
  4. S. A. Miller; J. B. Harley. Zoology. 5ª Edição. McGraw-Hill Companies, United States of America (2001).
  5. J. M. Pech-Canché; J. E. Sosa-Escalante; M. E. K. Cruz. Guía para la identificación de pelos de guardia de mamíferos no voladores del estado de Yucatán, México. Rev. Mexicana de Mastozoología, 13: 7-33 (2009).
  6. H. Elias; S. Bortner. On the phylogeny of hair. Am Mus of Natural History 1820: 1-15 (1957).
  7. L. A. Hausman. The microscopic identification of commercial fur hairs. Scientific Monthly 10 (1):70-78 (1920a).
  8. L. A. Hausman. Applied microscopy of hair. Scientific Monthly 59(3):195-202 (1944).
  9. D. Cowell; G. Thomas. A key to the guard hairs of British canids and mustelids. Brit Wildlife, England 11:118-120 (1999).
  10. J. Quadros; E. L. A. Monteiro-Filho. Revisão conceitual, padrões microestruturais e proposta nomenclatória para os pelos-guarda de mamíferos brasileiros. Rev Bras Zool 23(1): 279-296 (2006b). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1590/S0101-81752006000100023
  11. F. H. Pough; J. B. Heiser; W. N. McFarland. A Vida dos Vertebrados. Athena, São Paulo (1999).
  12. E. Y. Ionashiro; T. R. S. Hewer; F. L. Fertonani; E. T. de Almeida; M. Ionashiro. Application of differential scanning calorimetry in hair samples as a possible tool in Forensic Science. Eclética Química 29(2): 53-56 (2004). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1590/S0100-46702004000200008
  13. B.J. Teerink. Hair of west European mammals: atlas and identification Cambridge. Cambridge University Press, Reino Unido (1991) 224p.
  14. P. S. Martin; C. Gheler-Costa; L. M. Verdade. Microestruturas de pelos de pequenos mamíferos não-voadores: chave para identificação de espécies de agroecossistemas do estado de São Paulo, Brasil. Biota Neotrop. 9(1) (2009). Retirado em 06/04/2011 de http://www.biotaneotropica.org.br/v9n1/pt/fullpaper?bn015 09012009+pt .
  15. R. E. T. Vanstreels; F. P. Ramalho; C. H. Adania. Microestrutura de pelos-guarda de felídeos brasileiros: considerações para a identificação de espécies. Biota Neotrop. 10(1): 333-337 (2010). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1590/S1676-06032010000100029
  16. I. I. B. Ibarra; V. Sànchez-Cordero. Catálogo de pelos de guardia dorsal en mamíferos del estado de Oaxaca, México. Anales del Instituto de Biología - Serie Zoología 75 (2):383-437 (2004).
  17. H. C. Sorby. On the colouring matters found in human hair. J Anthropol 8: 1-14 (1879).
  18. L. A. Hausman. Structural characteristics of the hair mammals. Am Nat 54(635): 496-523 (1920b). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1086/279782
  19. L. A. Hausman. Further studies of the relationships of the structural characters of mammalian hair. Am Nat 58 (659): 44-557 (1924). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1086/280006
  20. L. A. Hausman. Recent studies of hair structure relationships. Sci Mon 30(3): 258-277 (1930).
  21. J. Quadros; E. L. A. Monteiro-Filho. Coleta e preparação de pelos de mamíferos para identificação em microscopia óptica. Rev Bras Zool 23(1): 274-278 (2006a). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1590/S0101-81752006000100022
  22. D. E. Vázquez; P. G. Perovic; A. A. Olsen. Patrones cuticulares y medulares de pelos de mamíferos del noroeste argentino (Carnivora y Artiodactyla). J. Neotropical Mammalogy 7(2): 131-147 (2000).
  23. A. Keller. Etude de la structure fine des jarres dorsaux de quelques Canidés sauvages et domestiques du genre Canis (Mammalia: Canidae). Rev Suisse Zool 91(4): 973-992 (1984).
  24. A. J. Kennedy. Distinguishing characteristics of the hairs of wild and domestic canids from Alberta. Can J. Zoolog 60:536-541 (1982). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1139/z82-080
  25. B. Ingberman; E. L. A. Monteiro-Filho. Identificação microscópica dos pelos das espécies brasileiras de Alouatta Lacépéde, 1799 (Primates, Atelidae, Alouattinae). Arquivos do Museu Nacional 64(1): 61-71 (2006).
  26. L. Faliu; Y. Lignereux; J. Barrat; J. Rech; J. Y. Sautet. Etude en microscopie optique des poils (pili) de la faune pyrénéenne sauvage en vue de leur détermination. Zentralblatt Vet. Med. C Anat. Histol. Embryol. 8: 307-317 (1979). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1111/j.1439-0264.1979.tb00817.x
  27. J. Quadros; E. L. A. Monteiro-Filho. Identificação dos mamíferos de uma área de floresta atlântica utilizando a microestrutura de pelos-guarda de predadores e presas. Arquivos do Museu Nacional 68(1-2): 47-66 (2010).
  28. J. A. Homan; H. H. Genoways. An analysis of hair structure and its phylogenetic implications among heteromyid rodents. J Mammal 59 (4):740-760 (1978). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.2307/1380139
  29. H. Hilton; N. P. Kutscha. Distinguishing characteristics of the hairs of eastern coyote, domestic dog, red fox and bobcat in Maine. Am Midl Nat 100: 223-227 (1978). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.2307/2424793
  30. A. Wolfe; A. M. Long. Distinguishing between the hair fibres of the rabbit and the mountain hare in scats of the red fox. J Zool 242(74): 370-375 (1997).
  31. P. L. Kirk; S. Magagnose; D. Salisbury. Casting of hairs - its technique and application to species and personal identification. J Crim Law Crim 40(2):236-241 (1949).
  32. V. H. H. Williamson. Determination of Hairs by Impressions. J Mammal 2(1): 80-84 (1951). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.2307/1375415
  33. E. L. Weingart. A simple technique for revealing hair scale patterns. Am Midl Nat 90(2): 508-509 (1973). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.2307/2424481
  34. J. Quadros; E. L. A. Monteiro-Filho. Effects of digestion, putrefaction and taxidermy processes on Didelphis albiventris hair morphology. J Zool 244: 331-334 (1998). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1111/j.1469-7998.1998.tb00037.x
  35. M.V.Y. Müller. Microestrutura de pelos de mamíferos: métodos de análise e sua aplicação na identificação de algumas espécies do Estado do Paraná, Brasil. Dissertação de Mestrado, Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná (1989).
  36. J. Quadros. Identificação microscópica de pelos de mamíferos brasileiros e sua aplicação no estudo da dieta de carnívoros. Tese de Doutorado, Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná (2002).
  37. M. S. Menotti-Raymond; V. A. David; S. J. O'Brien. Pet cat hair implicates murder suspect. Nature 386: 774 (1997). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1038/386774a0
  38. I. Sato; S. Nakaki; K. Murata; H. Takeshita; T. Mukai. Forensic hair analysis to identify animal species on a case of pet animal abuse. Int J Legal Med 124: 249-256 (2009). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1007/s00414-009-0383-2
  39. M. M. Houck. Hair bibliography for the forensic scientist. Forensic Science Communications- FBI 4(1): 2002. Retirado em 01/02/2011 de http://www.fbi.gov/about-us/lab/forensic-science-communications/fsc/jan2002/houck.htm.
  40. D. W. Deedrick; S. L. Koch. Microscopy of hair Part I: A practical guide and manual for human hairs. Forensic Science Communications – FBI 6(1) (2004a). Retirado em 31/01/2011 de http://www.fbi.gov/about-us/lab/forensic-science-communications/review/2009_04_review02.htm
  41. D. W. Deedrick; S. L. Koch. Microscopy of Hair Part II: A practical guide and manual for animal hairs, Forensic Science Communications - FBI 6(3) (2004b). Retirado em 31/01/2011 de http://www.fbi.gov/about-us/lab/forensic-science-communications/fsc/july2004/research/2004_03_research02.htm
  42. C. T. Oien. Forensic hair comparison: background information for interpretation. Forensic Science Communications – FBI 1(2) (2009). Retirado em 01/02/2011 de http://www.fbi.gov/about-us/lab/forensic-science-communications/review/2009_04_review02.htm
  43. A. R. Olsen; J. S. Gecan; G. C. Giobro; J. R. Bryce. Regulatory action criteria for filth, and other extraneous material. V. Strategy for evaluating hazardous and non hazardous filth. Regulatory Toxicololy and Pharmacology 33: 363-392 (2001). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1006/rtph.2001.1472
  44. A. W. Vazquez. Structure and identification of common food-contaminating hairs. J. of the AOAC International 44 (4): 754-779 (1961).
  45. A. R. Olsen. Distinguishing common food-contaminating bat hairs from certain feather barbules. Journal of the AOAC International 64(4): 786-791 (1981).
  46. A. P. S. Balbani; O. Butugan. Contaminação biológica de alimentos. Pediatria (São Paulo) 23(4): 320-328 (2001).
  47. M. Correia; M. J. Roncada. Características microscópicas de queijos prato, mussarela e mineiro comercializados em feiras livres da Cidade de São Paulo. Rev. Saúde Pública 31 (3): 296-301 (1997). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89101997000300011
  48. M. Correia; V.S.M.G. Daros; R. P. Silva. Matérias estranhas em canela em pó e páprica em pó, comercializadas no Estado de São Paulo. Ciênc. Tecnol. Aliment. 20(3): 1-9 (2000). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1590/S0101-20612000000300016
  49. F. A. Benedict. Hair structure as a generic character in bats. University of California Publications in Zoology 59: 285-548 (1957).
  50. J. Quadros. Identificação microscópica de pelos de marsupiais brasileiros. In: N. C. CÁCERES (org.). Marsupiais do Brasil. 2ed. Editora da UFMS. Brasil (2012) 498p.
  51. M. S. L. Abreu; A. U. Christoff; E. M. Vieira. Identificação de marsupiais do Rio Grande do Sul através da microestrutura dos pelos-guarda. Biota Neotrop. 11(3): 391-400 (2011). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.1590/S1676-06032011000300031
  52. H. L. Short. Analysis of cuticular scales on hairs using the scanning electron microscope. J. Mamm 59 (2): 261-268 (1978). [CrossRef] http://dx.doi.org/10.2307/1379911
  53. C. Chehébar; S. Martín. Guía para el reconocimiento microscópico de lós pelos de lós mamíferos de la Patagonia. Do-ana, Acta Vertebrata 16 (2): 247-291 (1989).
  54. M. A. Navarro. Comparação dos padrões microestruturais dos pelos-guarda de canídeos domésticos e silvestres brasileiros. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Tuiuti do Paraná (2011).
  55. C. L. Augustynczyc; E. B. Vaz, M. C. S. Novak, S. M. R. Grassano. Pelos humanos e animais: estudo comparativo aplicado à ciência forense. Rev. Polícia Civil 7: 43-57.

Creative Commons License

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Copyright (c) 2013 Revista Brasileira de Criminalística

Compartilhe

Download

Autor(es)